sábado, 2 de outubro de 2010

Ugaga...






Em épocas onde a terra não era divida ou nomeada, simplesmente percorrida por aqueles que almejavam o saber, desbravada por valentes seres que pregavam a luta e a conquista de cicatrizes, as marcas da gloria. Os homens não tinham raízes fincadas na terra, vagavam pela pele de Ugaga, em busca de bons animais para caçar, bons frutos para servir de alimento e oferendas aos seres sem carne, aos espíritos que habitavam tudo ao nosso redor. Um grupo de humanos sofria dificuldades em encontrar alimento devido ao período onde o sofro gélido de Gorhalaf cobria toda a extensão dos pastos com o medo, afastando todos os animais e matando as arvores com sua tristeza. Os humanos temiam a maldade de Gorhalaf e seu poder sobre a morte e o sofrimento, a mãe mais velha sempre alertou os mais jovem sobre o perigo desta época, todos perguntavam se existia uma forma de apaziguar o espírito que tanto temiam, a mãe mais velha dizia que Gorhalaf, tinha como sua maior oferenda, os espíritos das arvores e seres de carne que ceifava com seu hálito mortífero e que por trás de toda maldade do senhor da morte existia um antigo segredo. Todo esse ódio e desejo de morte sobre os seres provindo do sangue de Ugaga, a senhora das raízes, era devido a uma promessa não comprida por ela, nos tempos que Ugaga era jovem e caminhava por tudo que é dela, escolhendo a cor das flores e comendo de sua própria carne e bebendo de seu sangue.
A mãe mais velha, chamada pelos jovens de Ababu, escolheu quatro dos novos seres de carne que vagavam com ela para contar o segredo, os Morins (pequenos de Ugaga) seriam iniciados no segredo que ela guardou por inúmeras luas e cada um guardaria consigo uma parte desse segredo, com a finalidade de tentar acabar com a fúria de Gorhalaf e dar paz ao espírito da morte, para que nunca mais os seres de carne fossem tocados por seu sopro. Ababu afirma para os Morins escolhidos por Ugaga que conseguissem completar essa sagrada missão, não seriam tocados pela mão de Garrala, filha de Gorhalaf, aquela que tem a missão de tirar as almas dos seres de carne e devolver a Utuli, o grande muinho dos espíritos. Os quatro jovens aceitam a missão e logo são avisados por Ababu que iriam vagar muitas luas com ela para conhecer os segredos de Mutuni: A arte de se tornar um só com Ugaga e lutar com a ajuda da grande senhora das raízes.
Os quatro Morins, os escolhidos de Ugaga.
O primeiro dos morins que menciono é o misterioso e calado Huhur, criança solitária, nunca deu nenhum tipo de problema para os mais velhos do grupo, filho de Muma, Garrala a tocou no momento que gerou seu filho, perante a sabedoria imposta pelos mais velhos, uma criança que não foi contemplada pela luz do olhar de uma Aba (mãe) é uma criança de espírito negro, não foi tocada pela luz de Shambu, a senhora das lanças brancas provinda das nuvens, mãe de Shandi, a luz vermelha que consome a carne de Ugaga. Devido a esse acontecimento trágico no principio de sua existência, todos os seres de carne sempre agiram com suspeita com Huhur, devido a natureza de sua origem e o terrível destino de um Ka’aba’shambu(Negado pela mãe branca).
Diz os antigos contos recitados em noites de festa, a beira da luz de Shandi, que os Ka’aba’shambu, são espíritos negros, não aceitos pelas raízes de Ugaga, nascidos em noites sem Maaba’Tu, a irmã mais velha de Ugaga, protetora e sempre zelosa com sua irmã, pelo medo que ela tem de sua aba acordar, Shan’aba Ranubu( Mãe negra de olhos brilhantes), Maaba’Tu, desde a sua criação, ela vêem vigiando o sono de sua misteriosa e incompreendida mãe que tudo vê, a todo tempo que está acordada. O motivo dessa atenção e que Ranubu não gostou que Ugaga criou os seres de carne e os trata como seus iguais, Ela se sentiu ofendida em ser comparada a eles em tratamento, Ranubu iria rancar um de seus olhos e jogar em direção a Ugaga para acabar com todos os seres de carne, através da intervenção de Maaba’Tu, Ranubu dormiu e achou que tudo é ilusão de seu irmão Igi, o dono do mundo aonde os seres de carne vão quando dormem Maaba’Tu rapidamente aprisionou sua mãe em Hajah, os reinos onde residem os espíritos mais velhos que descansam, Utuli, o muinho dos espíritos além de Hajah, viu sua filha Ranubu e a engoliu pensando ser mais um dos espíritos dos seres de carne, isso acarretou a volta de Ranubu para dentro da teia da vida, unida com Ugaga, seus cabelos negros que formam tudo que os seres de carne vêem quando Maaba’Tu entra para vigiá-la, tornaram-se a morada do espírito de Ranubu. Num período onde Maaba’Tu não agüenta mais ficar acordada e precisa repor suas forças nos reinos de Igi, Ranubu acorda e toma para si por breve momento a consciência de sua filha Ugaga, toma o filho de uma de suas abas depositando parte do seu espírito nele, apagando a luz dentro do Morim. Os mais velhos não sabem ao certo o que acontece com os morins tocados por Ranubu, mas, o temor sobre os misteriosos poderes dela, é digno de extrema atenção, pois os piores homens que já pisaram em Ugaga, são os filhos sem a benção de sua aba.
O segundo morim escolhido foi Roh-Bu, o nascido à beira da luz de shandi, na festa de agradecimento aos espíritos dos animais pela fartura dada aos Terrahs, morin alegre e sempre sorridente, é um pequeno guerreiro de muita força, sempre está próximo aos mais velhos, ouvindo as historias, respeitoso e sempre elogiado por ajudar a todos que pode, considerado por Ababu, é filho do filho mais velho da mãe mais velha, parece ter herdado algum dom do sangue de seus ancestrais, pois os animais que moram dentro de Maio-Ma (densa floresta) nunca o atacam, ele anda pelas feras sem ser atingindo por nenhum mau e come com elas sem nenhum temor, é bem comum esbarrar com Roh-Bu com a boca totalmente suja de Mi’lii (Sangue), pois, ele tem o habito de se alimentar junto com as feras.
Roh-Bu ainda pequeno mostrou seu amor pelas feras de Maio-Ma, numa época de flores cheirosas, houve grande chuva nos arredores onde os Terrahs se encontravam, Ranubu não parava de chorar, todos os animais fugiram da região, o grupo já começava a se deslocar para algum lugar com menos chuva. Durante a longa viagem, os terrahs chegaram até as baixas regiões de Can’Ru, um lugar cheio de mistérios contados por todos os seres de carne espalhados pelos quatro cantos. Diz a lenda que o corpo de carne de Ugaga dormiu dentro de um Shuh (templo) no coração selvagem daquela Maio-Ma, não se sabe o motivo pelo qual, Ugaga adormeceu, não se tem noticia entre os praticantes de mutuni, sobre uma forma de acordá-la completamente, eles sentem, o coração de Ugaga ainda pulsa e por um breve momento, Roh-Bu ainda criança sentiu o coração de Ugaga pulsar, algo entrou em sua mente, ele pegou sua pequena lança e subitamente correu para dentro de Maio-Ma e disse para os mais velhos que iria caçar Shandra-Mamu, os guerreiros partiram rapidamente ao resgate do pequeno morim, eles se perguntavam como o garoto conhecia a historia de Shandra-Mamu, se ela nunca foi contada, pela besta-fera ter sido responsável pela destruição da carne de muitos terrahs. Diz a lenda que a besta é uma das primeiras filhas de Ugaga, ela defende o corpo de carne de sua mãe, não se sabia como era, pois nenhum guerreiro tinha voltado dessa batalha com vida antes de Roh-bu. Dizem os guerreiros que conseguiram encontrar Roh-bu dentro da floresta, viram o morin, encima das costas do animal, os guerreiros, nunca disseram como Sandra-Mamu era só falaram que sua pele era como a luz de Shandi e seus olhos brilhavam como as lanças de Shambu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário