quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O nascer de etérea..

























Um delírio noturno, me fez acordar para acontecimentos jamais pensados por mim ou por qualquer pessoa, assim presumo. Em meio a um turbulento sonho me deparo com grande caos, céu rasgado, era mais que um simples fim do mundo, era o fim de tudo que existia nessa realidade, bilhões de anos retrocedendo ao zero, em segundos de desespero e muita luta, avisto grandes guerreiros que tentam impedir a grande tragédia, onde até a existência Divina é ariscada, momentos onde a carne e o espírito lutam juntos. Os grandes ídolos divinos pisam na terra e igualam-se a humanidade em irmandade, num único propósito, descobrir um modo de sobreviver ao fim de tudo, Por que Deuses imortais temeriam o fim? A morte não é um de seus atributos. O Caos é a destruição completa de toda a forma, é o fim de um ciclo cósmico, onde tudo e todos deixam de existir para o novo surgir.
Acordo por volta das 18h00min, desanimado como sempre, meu nome é Carlos, Sou jornalista desempregado, sobrevivendo com algumas publicações e comissões por tiragens literárias de dois ou três livros publicados, levando em consideração que a critica odiou, ainda consigo me sustentar em nível precário com essa humilde quantia. Sinto-me perturbado com esses sonhos que tenho tido, tem anos que esses sonhos envolvendo Deuses e energias cósmicas e questões relacionadas não me assolavam, minha velha insônia me pegou, já faz dois meses seguidos que não durmo a noite, nunca fui fã do dia e do sol, sou um homem noturno que não vê graça na noite, como uma coruja dentro de uma gaiola aberta, deliberadamente não querendo sair, trabalhei a noite anterior inteira escrevendo para uma revista esotérica idiota sobre como se livrar do mal, patuás e encantos medíocres que eu mesmo inventei, muitos enviam emails dizendo o quanto estão agradecidos pela sabedoria mística, isso me enoja, o ultimo problema que eu tive com o mal, foi um demônio batendo na minha porta, literalmente e não estava querendo tomar um café ou fazendo uma simples visita. As coisas estão meio que agitadas no mundo atual, cada vez mais aparições, assombrações cada vez mais poderosas e Deuses omissos e fazendo a velha vista grossa. Como eu aprendi a odiar os Deuses, com suas lindas dimensões moldadas por mágica celestial, odeio mais a humanidade por saber que a maioria deles não eram divinos originalmente, foram sujeitos a essa condição por devoção, idolatria, você não tem idéia o que milhares de pessoas, milhões gritando que você é um Deus pode fazer com seu corpo astral, é uma carga do suco divino, a fé que nos desperdiçamos eles fazem bom proveito e eles estão fortes e imortais e nós a mercê do mundo e das dificuldades.
Moro num pequeno apartamento perto da central do Brasil, que não tem mais relógio, por sinal, depois que as facções criminosas resolveram manter vínculos estreitos com as organizações terroristas do oriente médio, eles aprenderam a explodir as coisas. Estamos no terceiro prefeito em seis meses, é um ótimo numero levando em consideração o ano passado, estou otimista.
Noite de sábado, 19h10minh, uma amiga de longa data me convidou para almoçar com ela e alguns dos nossos amigos, mas, como sempre eu não pude ir, estava muito ocupado sonhando com o fim da existência em todos os graus, padrões dimensionais e energéticos. Ela me ligou muito aborrecida como sempre, dizendo que precisa conversar comigo sobre assuntos espirituais, odeio essa parte das nossas conversas, pois eu não posso dar as costas e sair andando como sempre faço com a maioria das pessoas que tentam entrar nesse assunto comigo pelo simples fato dela ser minha grande amiga, praticamente uma irmã. Ela me pergunta se eu quero sair com ela, pra conversar, coisas de amigos. Lapa as 22h00min, eu aceitei, foi uma feliz surpresa pra ela, que me esperaria em frente à Boate Moon, ambiente rock popular aos admiradores do gênero musical. Estou pensando seriamente na possibilidade de não ir ao encontro marcado com ela, tenho tantas coisas para pensar, estou numa fase pouco inspiradora, nenhum otário se envolveu com magia esse mês, sempre tem um desse tipo para arrancar dinheiro, na maioria das vezes são coisas simples, algum tipo de sacrifício sempre resolve a brincadeira, ou quando a figura em questão é um velho conhecido meu, uma conversa basta. Eu adoro os demônios, eles sabem viver a vida, nunca acreditei nas estórias bíblicas, baboseiras sem sentido, são espíritos humanos bem antigos, já ouvi falar de contatos de seres humanos atualmente com demônios de procedência pré-diluviana, Alguns admitem serem antigos sacerdotes atlantes, ou meros animais daquela época, vai entender o que leva esses tipos de seres chegarem ao extremo da polaridade negativa.
21h00min; Vitoria me liga, ordenando que eu me arrume imediatamente, digo que estou me arrumando, mas na verdade nem sai da cama ainda, invento uma desculpa sobre algo relacionado a uma doença viral, ela não acredita. Ela usa de chantagem emocional lembrando da época que eu era o amigo sempre presente, ligava altas horas da madrugada, para falar sobre sonhos e visões, experiências sobrenaturais, dos finais de semana onde minha mãe viaja e fazíamos nossos rituais, e brincadeiras mágicas. Não tenho saudades nenhuma daquela época, mas, por ela eu vou sair da minha casa.
È difícil pensar sobre assuntos espirituais tive quase uma dezena de religiões, me envolvi com uma infinidade de cultos e praticas mágicas diferentes, nada me preencheu, às vezes sentia uma ligação com uma determinada energia, Divindade, espírito, mas nada demais, sempre seguia em frente, sofrendo as conseqüências do meu caminho e as reações adversas. Nunca temi nada, nunca abaixei minha cabeça, me senti inferior a algo, sempre estive consciente, às vezes não, tinha meus transes absurdos e suspeitos, até por mim mesmo. No começo tinha a total convicção que tudo era fruto da minha imaginação fértil, era um efeito poltergeist ou coisa do gênero. A magia tem seus mistérios, Os Deuses suas excentricidades, penso em tudo isso andando em direção ao meu destino, encontrar Vitoria, Alta Sacerdotisa de uma ordem dedicada a Deusa trivia, Hecate. Eu prefiro chamar de vovó, é uma velha maneira, uma Deusa feiticeira, já não se basta o fato de ser uma divindade, tinha que ser bruxa. Na época que eu praticava bruxaria, minha devoção e foco ao Divino, era para a Deusa Suméria Lilith, Deusa da noite, misteriosa Lilith de longos cabelos alvos, me fascinava, uma fagulha de sua energia já me inebriava estado de êxtase, na maioria das vezes me fazia muito mal a sua presença, me devorava , me beijava, era a sensação de prazer misturado com desespero, parecia um turbilhão de sentimentos, ainda a amo, admito, como uma mãe...
Tentando achar roupas limpas acabei me deparando com algumas coisas no meu armário, fragmentos do passado, não me atrevo a tentar montar, não quero lembrar, é agonizante, me traz magoa, ódio, raiva transborda pelos meus olhos. Criei um ressentimento muito grande por muitas coisas acontecidas, optei pelo esquecimento, pela morte do meu espírito, ser um homem sem alma é minha vontade.
22h10min; Chego à frente da boate e me deparo com a previsível surpresa. Vitoria Sóror Gaia e meu antigo companheiro de muitos rituais, Gora. Eles estão meio espantados com a minha estética, para alguém outrora tão vaidoso, não compreendem meu estado, barba, cabelos emaranhados, pelo menos estou de banho tomado e roupas limpas de tecido pesado, incomum para o calor que faz nessa época do ano, ultimamente tenho sentido muito frio, um frio sobrenatural, rs. Minutos de reencontro já perguntam sobre meu estado, onde estou morando, como eu estou como vai meu espírito, respondo o de sempre: Ainda dentro do meu corpo, RS, fomos para um bar bem escondido, onde rokeiros, satanistas, pagãos ,se encontram, há muito tempo eu apelidei o mesmo de “Escuridão” e pegou, até hoje denominam o local assim. Vitoria escolheu este lugar, já presumo que o assunto vai ser bem acentuado para questões ocultistas, pelo simples fato que tirar um livro negro da bolsa com símbolos estranhos e colocar sobre a mesa, você não é conotado como um herege adorador do demônio, somente como mais um bruxo, ou feiticeiro entre muitos no atual mundo onde vivemos nossas vidas lastimáveis.
Chegamos à porta do escuridão, uma fila mediana está formada, tem anos que eu não veio neste lugar, de um bar num beco escuro, se tornou uma espécie de boate dark ou coisa parecida. Gorach, pelo jeito está familiarizado com o local, bastante gente o cumprimenta, não reconheço ninguém. Estou calado como sempre e Gaia animadíssima como sempre, estou com uma vontade absurda de ir embora, Vitoria vê isso em meus olhos, eu vejo nos olhos dela o desejo da minha permanência. Depois de eternos vinte minutos na fila conseguimos entrar no recinto, mudou muito, mais amplo e aconchegante, com pista de dança e uma área vip no final do longo salão, sinto uma presença familiar no local, me abstraio da sensação. Recosto-me no bar modelo americano e deixo bem claro aos meus caros amigos que não tenho dinheiro e quero beber bastante.
Vitoria:
- Você sabe como ficamos chateados com o seu sumiço, tem idéia do quanto preocupados estávamos até ainda há pouco?
- Na verdade ainda estou preocupada com você Carlos.
Eu:
Nunca deixei de atender suas ligações. A solidão foi necessária para minha evolução pessoal.
Vitoria:
- Você chama seu estado atual de evolução? O que aconteceu Carlos?

Esse tipo de conversa cheia de perguntas já é praxe em nossos encontros, costumo sempre contornar as perguntas com respostas lógicas sem muito aprofundamento no meu cotidiano.
Pergunto a Vitoria:
Não é o que aconteceu, é o que está acontecendo, porque tanta preocupação? Depois do seu primeiro casamento, o vinculo entre nós não foi, mas o mesmo. Subitamente depois que foi elevada ao cargo de alta sacerdotisa foi inundada com um sentimento de resgate e remorso pela negligencia social aos amigos. Minha cara amiga, meu estado é o reflexo do mundo onde eu vivo simples, suspeito e psicótico.
Ela se cala e fica profundamente triste com minhas fortes palavras, tentando se esconder atrás de uma pilha de copos de tequila. É difícil conviver com uma grande e fiel amiga que simplesmente abandona seus irmãos de coração por cada aventura sentimental que ela encontra em seu destino, sua Deusa ancestral com certeza a alertou sobre essa conduta.
Ficamos em pé conversando e jogando um nos outros nossas falhas. Em um momento de silêncio entre nós, olho ao redor e vejo a infinidade de estilos de vida integrados a sistemas mágicos, é interessante esse novo conceito de sub-cultura, Já tinha visto isso no meu tempo mais era bem precoce, não tinha essa proporção que consigo ver nesse momento. Na mesa que se encontra nas minhas costas, um grupo de mulheres com fortes maquiagens e muito dourando nas roupas e jóias, três delas com gatos de pedigree em seus colos, são feministas pagãs denominadas Garras de Bastet, Antiga Deusa egípcia da fertilidade. Muitos outros subgrupos se misturam nesse ambiente, pagãos de todas as formas e cultos. Neo-nazistas odinistas e muitos outros, pessoalmente vêem simples estética em meio a pouca magia, foi a assim no passado, é assim na atualidade.
Muitos acontecimentos desencadearam a criação de grupos, primeiro o simples fato que andar sozinho nas ruas, no andar da carruagem é loucura e o que uniu as pessoas com o misticismo foi a perca da esperança mundial no cristianismo, era fato consumado o reconectar dos seres humanos com as crenças pagãs. O ser humano é sempre assim, abraça um ideal depois vê as vantagens do outro, abandona e o segue, como um circo vicioso, não é a ultima nem a primeira vez que acontece.