sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Lendas do Maranhão ...









A serpente que envolta o Maranhão


Diz a lenda que uma serpente adormecida cresce pouco a pouco ao redor da ilha de São Luís, e no dia em que sua cauda encontrar a cabeça, o monstro destruirá a cidade, fazendo com que ela seja tragada para sempre pelo oceano. Afirma-se, também, que um dos locais em que é possível confirmar tal história é a Fonte do Ribeirão, onde está a cabeça do animal, e quem olhar através das grades da entrada, poderá reparar nos medonhos olhos da cobra luzindo na escuridão. Segundo a crença, a gigantesca serpente encantada habitaria as galerias subterrâneas que percorrem o Centro Histórico de São Luis, e do seu corpo descomunal a barriga encontra-se à altura da igreja do Carmo, e a cauda à da igreja de São Pantaleão.

A imaginação popular criou explicações diferentes para essas construções subterrâneas na capital maranhense. Uma garante que elas teriam funções estratégicas, pois serviriam para permitir a fuga em caso de ataques de invasores estrangeiros ou revoltas populares, já que muitas têm saída para o mar; outra afirma que elas eram usadas pelos padres para se locomoverem em segredo de uma igreja para outra, e de também promoverem por ali um rendoso contrabando de mercadorias e escravos. Na verdade, as bicas da Fonte do Ribeirão são alimentadas através dessas galerias: a principal possui dois metros de largura e suas paredes são guarnecidas dos dois lados por bacias incrustadas nos nichos de onde brota a água, que depois escorre por condu-tos laterais até sair pelas bocas das carrancas, situadas mais abaixo.

Construída em 1796 a mando do governador D. Fernando Antonio de Noronha (1792-1798), considerado o mais ineficiente de quantos estiveram à frente da administração maranhense durante o período colonial, a Fonte do Ribeirão, situada entre as ruas do Ribeirão, das Barrocas e dos Afogados, tinha como objetivo principal melhorar o saneamento da cidade através do fornecimento
de água potável à sua população, mas o passar do tempo acabou por envolver essa obra em um manto de lendas e mistérios criados pela imaginação popular. No entanto, o mais conhecido deles - justamente o da serpente encantada - já existia bem antes dessa data. O padre Antônio Vieira (1608-1697), quando chegou ao Maranhão em 1653, encontrou um estado praticamente independente do resto do Brasil, um litoral imenso que se estendia do Ceará à foz do rio Amazonas, cheio de dunas, mato fechado e pouco desbravado, um verdadeiro vespeiro, segundo seu entendimento, no qual os jesuítas se defrontavam diariamente com os colonos. Por isso, magoado com as rixas constantes que era forçado a enfrentar, ele resolveu desabafar em abril de 1654, quando ao final da missa que rezara, pronunciou um sermão purgativo.

Nele, o grande missionário afirmou que o Maranhão havia se transformado no “reino da mentira”, e lá, como no fundo dos mares, não havia solidariedade alguma, pois tal como entre os crustáceos e os peixes, imperava o canibalismo. A inconstância de tudo por lá era tamanha, dizia o jesuíta, que a baía de São Luís era a única, no mundo inteiro, onde até o sol, tão certeiro em outras latitudes, enganava os pilotos. E afirmava: “olhando o astrolábio, ora ele indicava um grau, ora dois, e o resultado era que muitos barcos encalhavam por lá”. O que o fez concluir que “até o céu mentia no Maranhão”.

Continuando, disse o padre Antônio Viera que naquela vila a mentira, não tendo para onde ir, alimentava ainda mais outras inverdades. Nasciam e ali ficavam. Lá a mentira dançava de roda. Era por isso, talvez, que o povo temia a Serpente da Ilha, monstruoso ofídio que diziam dormir ao redor de São Luís, e que se algum dia suas presas encontrassem o seu rabo, mordendo a si mesmo, ela se ergueria para devastar com tudo.

Fonte: www.patrimoniolz.com.br

LENDA DA CARRUAGEM DE ANA JANSEN











Em 1682 criou-se no Maranhão a Companhia do Comércio do Maranhão, cuja finalidade seria a de introduzir naquela região cerca de quinhentos escravos a cada ano, vendendo-os a cem mil reis cada um, bem como a de exercer o monopólio dos gêneros alimentícios. Mas ela não só deixou de cumprir o compromisso com relação aos escravos, como também vendia mercadorias de péssima qualidade a preços elevados, o que ocasionou um levante popular chefiado por Manuel Beckman, o Bequimão, colono influente e rico proprietário, que atraiçoado por um sobrinho acabou sendo preso, julgado sumariamente e executado. Subindo ao patíbulo, esse português de nascimento declarou apenas que morria contente pelo povo maranhense.

Tal época propiciou a formação de grandes fortunas no estado, administradas com mão de ferro pelos que as possuíam. Entre esses ricaços de São Luis encontrava-se Ana Joaquina Jânsen Pereira, mais conhecida como Donana Jânsen, uma comerciante poderosa e que por isso mesmo exercia forte influência na vida política, administrativa e social da cidade. Sobre ela dizia-se que era perversa ao extremo, que submetia seus escravos às mais bárbaras sessões de tortura, aplicando-lhes suplícios tão grandes que eles geralmente acabavam morrendo. Daí que de certa altura em diante o nome dessa senhora passou a ser pronunciado não com respeito, mas com evidentes sinais de medo ou pavor.










Isso aconteceu no século 19. Anos após a morte de Donana Jânsen, os moradores da Praia Grande, onde ficava o casarão que a temida senhora habitara, passaram a comentar que nas noites de sextas-feiras, principalmente nas mais escuras, uma carruagem puxada por parelhas de cavalos brancos sem cabeça, guiados por uma caveira de escravo também decapitado, desfilava em desabalada carreira pelas ruas de São Luis conduzindo em seu interior o fantasma da comerciante que assim pagava pelos pecados, desmandos e atrocidades que cometera em vida, e para os quais não encontrara perdão.

Revela a lenda que se algum infeliz retardatário tiver a desventura de encontrar-se com a carruagem de Ana Jânsen pelas ruas de São Luis, deverá incontinenti rezar uma oração pedindo que a alma da maligna criatura seja salva. Caso contrário, receberá, ao deitar-se, uma vela de cera entregue pelo fantasma, e quando o dia amanhecer, esta pequena peça terá se transformado em um osso humano descarnado.







LENDA DA MANGUDA

A crendice popular sempre foi o terreno fértil em que nasceram e cresceram as superstições e os mitos existentes com fartura em todos os povos. São incontáveis as histórias americanas, européias, asiáticas e oceanienses, que falam de fantasmas e assombrações, de criaturas fantásticas das mais variadas formas, de lugares e recantos que se tornaram mal-afamados em conseqüência de acontecimentos misteriosos lá acontecidos, e invariavelmente atribuídos ao sobrenatural, às coisas do outro mundo. Daí se poder dizer que cada localidade, cada agrupamento humano tem guardado na memória dos seus moradores o registro de fatos inexplicáveis vividos pelos seus antepassados, cujo sentido místico é resguardado sob a capa de mistério, de imponderável, de incompreensível, de enigmático.

A cidade de São Luís, capital do estado do Maranhão, é uma delas. Fundada em 1612 por Daniel de La Touche, senhor de La Ravardiére, que veio da França com uma expedição composta por mais de quinhentos homens e se estabeleceu, de início, em uma ilha próxima ao continente - a que chamaram de São Luís em homenagem ao seu rei, Luís XIII -, ela se tornou símbolo do ardor patriótico daqueles que defendiam a integridade física do solo brasileiro: em 1615, na batalha de Guaxenduba (*), os portugueses chefiados por Jerônimo de Albuquerque, tomaram a ilha e expulsaram seus ocupantes. Livre das tropas francesas, e posteriormente das holandesas, São Luís tornou-se importante centro de comércio colonial, e foi justamente essa atividade que proporcionou o surgimento de uma das mais conhecidas lendas maranhenses, a da Manguda, que sobressaltou e encheu de pavores não só as crianças, mas também grande parte dos adultos da pacata cidade provinciana.

Em 1719 foi erguida uma capela na região conhecida como Ponta do Romeu. Anos depois, em 1775, essa pequena ermida ganhou maiores proporções e recebeu o nome de Igreja dos Remédios, o mesmo dado posteriormente ao bairro onde ela se alojava. Uma dos mais belos e conservados templos católicos da capital maranhense, a Igreja dos Remédios fica de frente para a atual Praça Gonçalves Dias, também conhecida como Largo dos Remédios justamente por causa do santuário, realizando-se ali, no mês de outubro, uma das mais tradicionais festas religiosas de São Luís.. O terreno onde ela está situada pertencera à Ordem de São Francisco, e era conhecido anteriormente como Largo dos Amores, porque a escadaria ali existente sempre foi um dos locais preferidos para encontro de namorados.

No final do século 19, o Largo dos Remédios e adjacências era uma região mal iluminada, e por essa razão evitada pela população local tão logo a noite caía. Nas imediações ficava situado o porto do Jenipapeiro, pouco fiscalizado pelas autoridades policiais porque estas, acreditando que a guarnição da penitenciária existente no lugar onde hoje funciona o Hospital Presidente Dutra, estaria se encarregando normalmente dessa missão durante o desempenho diurno e noturno de suas atividades de guarda e vigilância, consideravam tal providência como desnecessária. Mas a presunção não era correta, e sabedores desse fato os comerciantes envolvidos com o contrabando de mercadorias - especialmente tecidos europeus -, que já haviam fracassado em diversas tentativas de recebimento das cargas ilegais, perdendo-as com os flagrantes e as apreensões efetuadas pela polícia, escolheram o Jenipapeiro como ponto ideal para a entrada do contrabando que chegava nos navios vindos do exterior, evitando dessa forma o pagamento dos impostos devidos.

Para facilitar ainda mais as coisas, os contrabandistas idealizaram e executaram o plano de assombrar as redondezas da praça e da Igreja dos Remédios com uma aparição fantasmagórica: um vulto de grande tamanho envolvido em uma espécie de camisola branca, com mangas largas e compridas - daí a razão de ter sido batizada com o nome de Manguda - tendo o rosto disfarçado por uma máscara caveirosa e soltando fumaça pelo alto da cabeça. O embuste funcionou durante certo tempo, até que alguns cidadãos mais corajosos desconfiaram de alguma coisa e decidiram verificar de perto o que estava acontecendo, descobrindo que não havia nada de sobrenatural na estranha “aparição”, muito pelo contrário, ela era “humana” até demais, pois servia apenas para encobrir as atividades ilegais dos comerciantes interessados em lesar o tesouro imperial.

Mas tem gente que até hoje jura de pés juntos que a história é verdadeira.

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