sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sexta feira 13 ...









Noite de sexta feira, sinto o cheiro do gatos cozidos nos caldeirões desde a tarde, malditas feiticeiras, escondidas dentro das florestas, empregadas, camponesas,até muitas ladys da corte,vindas de lugares distantes e nessas noites revelam sua verdadeira alma, mulheres ligadas a um culto antigo, regado a sangue, sexo e muita magia negra. Tais artes não são atributo das mulheres somente, sabemos de muitos homens envolvidos, vestidos de negro com suas máscaras cornudas, celebram seu sangue antigo, herdeiros da fertilidade do grande bode negro, filhos, sobrinhos e netos das bruxas, famílias inteiras estão envolvidas, louvam a um Deus-chifrudo e a uma Deusa feiticeira, carcereira do inferno, a mão sobre a corrente que segura o Cérberos.

Minha família está com fome, a dias não comemos direito,não posso sair pra caçar,minha avó me proibiu de sair, disse que me conhecia, ela não dorme a dias, as vezes dorme durante o dia e acorda aos gritos,renegando algo, como se estivesse fugindo de alguém, são gritos assustadores, não gosto nem de pensar como são esses sonhos, só os gritos me apavoram bastante, se eu ficar tentando imaginar, vou ter uma breve ideia do que ela sonha, assim, também não conseguirei descansar, ela deixou de comer pra alimentar meu irmãos mais novos, meus pais estão mortos a muito tempo, foram pegos pelos desgraçados nas profundezas da mata, sinto-me um inútil ao saber que não pude defender minha mãe e meu pai daqueles canibais insanos, completamente impotente, só de lembrar do barulho dos corpos deles sendo arrastados pelas bestas-feras do submundo, sinto-me enjoado, calafrios tomam o meu corpos, não foram só eles que tiveram esse fim triste e medonho, muitos conhecidos já entraram nas florestas nos períodos que antecede essa sexta feira, nenhum voltou pra contar o que viram.Eles estão por lá,os demônios da noite, dançando nas noites anteriores ao dia que eles tanto almejam e dentro das cavernas durante os dias, não sabemos quem são, sabemos que bebem sangue, irmãs se deitam com irmãos, filhos com mães, num voto diabólico de união.

Hélios está voltando a sua morada pra mais um descanso e deixa lua trazer a noite, quando “aqueles” que nem tenho coragem de chamar de humanos, ganham mais força, o brilho da lua desperta o que há de mais animal na natureza deles, ouvimos uivos ao norte, os lobos das montanhas entram em comunhão com toda essa realidade nefasta, entre eles e os lobos, prefiro os filhos de Ártemis, digno morrer pelos caninos afiados deles, morreria lutando, mas, a inteligência deles quando em conjunto é assustadora, as montanhas eram uma possibilidade pra caçar, é bem distante do cheiro de cozimento na floresta escura, mas nesta lua cheia, os lobos estão abençoados pelo brilho de vossa mãe e a fúria os possuem, de tornando quase impossível sobreviver a uma investida promovida por uma matilha. Estou sentindo medo em meu interior, uma vontade de chorar, mas preciso me controlar, pra não desesperar meus irmãos. Minha avó está como em todas as épocas que passamos por isso, com um olhar firme e filho pra lareira, as vezes , percebo movimentos sutis em seus sábios, como se estivesse falando com o fogo, de alguma forma, quando ela faz isso, o calor me abraça e me sinto melhor, com mais confiança e segurança, ela tem seus mistérios, não é muito religiosa e trabalha coletando cogulemos,raízes e legumes na beira das floresta, na primavera ela gosta de cultivar flores em volta da casa, e se torna outra pessoa, feliz, sorridente e animada, nessas noites de inverno, principalmente quando existe uma sexta feira como essa, ela se cala, torna-se incomunicável, só murmura ao fogo da lareira palavras que não consigo identificar a língua.

Um vento forte abre nossa janela, o inverno não está muito rígido, minha irmãzinha acorda assustada com o barulho, o frio parece diminuir a chama da lareira, minha avó pedi pra fechar a janela, levanta de sua cadeira e abre um grande baú ao lado do fogão de lenha, retira um manto grosso, cobre minha irmã, o manto parece antigo, mas muito bem conservado, pele de um animal negro e peludo, não consigo identificar, pode ser a pele de um urso negro. O tempo parece ter parado, o vento não está fazendo barulho movendo a janela, minha avó muda subitamente a direção do seu olhar, outrora fixado no fogo, levanta apressadamente e coloca mais lenha na lareira, joga algumas raízes nas brasas , elas queimam e emanam um cheiro muito forte no ar, minha avó olha pra todas as direções do teto, feito de forte madeira, logo seu semblante muda e a tranquilidade volta a reinar em suas atitudes, retorna a sua cadeira de balanço e se mantem murmurando palavras misteriosas dedicadas ao fogo, ela parece ter algo, como se estivesse esperando algo que poderia nos fazer mal, os feiticeiros nunca saíram da floresta, sinto que esta noite vai ser mais incomum do que imaginávamos.

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