quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Samira e Samara...





Na presença de sua fraqueza maior, no alvorecer, ela se encontra atada, rodeada de sabugueiro, uma ironia, a matéria de sua vassoura, agora é alimento para as chamas do seu fim carnal, revoltada, grita à lua, aos poucos a abandonando, dando espaço para seu consorte, ela pede para sua mãe ficar mais um pouco, ela quer ficar na presença daquela que sempre a confortou e ajudou nas noites mais claras, lhe doutrinou e ensinou, em fases mais sombrias, ela só quer a presença de sua mãe até o fim de sua vivência.
Samira grita aos quatro cantos, voz agonizante, regada pelo ódio, sua vontade não é sobreviver, seu sacrifício não será desperdiçado, cada gota de seu sangue, ela oferece ao fogo, pedindo a morte de todos que assistem sua execução, no seu âmago, ela não quer morrer sozinha, passou toda sua vida, independente, sempre altiva e superior a tudo, inconformista, nunca disse o que realmente sentia para alguém que realmente amou.
No ascender das tochas, no encandear da grande fogueira, sua sentença, ela se cala, por breves segundos, espantada ao ver aquela figura alva como as nuvens do céu, correndo em direção a fogueira. Samira, não sabia o que ela iria fazer. Cada vez que seus passos corridos a tornavam mais próxima, Samira sentia seu coração bater, a muito essa sensação não toma sua atenção, sentimentos a muito esquecidos, manifestavam em sua consciência os desejos perdidos nos momentos de sua maior decepção, não sabia o que a mulher desesperada representava em sua vida, mas ela emanou de seu ser o desejo de vencer a morte.
Naquele momento ela começa a proferir palavras esquecidas pela humanidade, reavivadas em sua mente pelo desejo de continuar a existir, mesmo que seu corpo não resista, sua alma grita por realidade. Aquela mulher rompe as barreiras de sua razão nefasta, confronta seus inimigos e salta para um eminente ato de suicídio, escalando o fogo para encontrar com uma figura estranha, a pele perece, seus corpos começam a se extinguir através das chamas e mesmo assim ela não desiste, abraça Samira com tanto amor, proferindo uma única frase.

-Não me conhece, não a conheço, sou Samara, somos uma.

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