sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Daemons e Gênios onde tudo começa... (Parte II)














 Indulge genio, carpamus dulcia, nostrum est
quod uiuis, civis et manes et fabula fies;
Vive memor leti, fugit hora, hoc quod loquor inde est.

(Aulo Pérsio Flaco)




 Sê indulgente com teu Gênio, desfrutemos os prazeres; a vida que usufruis é nosso único bem: tu te converterás em cinza, manes, objeto de conversação. Vives pensando na morte: as horas passam, o que eu estou dizendo já é coisa do passado.
O estoico Pérsio, poeta romano, nos fala da importância que tem, a expressão romana “ Indulgere genio” algo como seja complacente com o seu gênio, leve uma vida alegre, seja feliz ainda que a vida seja dura, dedique alguns momentos para o prazer, pois tudo que seu Gênio quer para você é uma vida prazerosa e repleta de felicidade. Esta é uma das principais atribuições do Gênio.
O Gênio é concebido no mesmo instante que o humano, gestam no ventre da mãe e na hora do nascimento, o humano nasce como matéria e ele nasce como espírito e sai junto com a placenta, e passa a viver ao lado do seu duplo material.
Para os antigos, quando os nenéns sorriam olhando para o nada é porque brincavam com o seu Gênio, mais tarde quando as crianças brincam com o seu amigo invisível, elas brincavam com seus gênios. Era o gênio que guiava os humanos, era o que hoje chamamos de nossa intuição, proteção e olhos para o invisível.
Eram tão normais e cotidianos, que pouco eram relatados como algo misterioso, mágico ou religioso. Eles faziam parte do nosso dia a dia, como nos relata Homero: quando Agamêmnon se desculpa com Aquiles, na famosa e estudada “Apologia de Agamêmnon”, se esquiva de ter ofendido seu oponente, dizendo ‘não sei o que se passou, o Daemon nublou minha visão’. Bastou isto e todos, inclusive Aquiles, aceitaram isto como fato e se reconciliaram e Aquiles retornou a luta para completar seu destino.

 Para nós atualmente, depois de dois milênios de cristianismo, mal ouvimos falar em Gênios e Daemons, no seu sentido original, pois as manifestações mais evidentes do gênio acontecem na infância, e nem mesmo os religiosos as atribuem aos anjos da guarda, mas sim a algo psíquico que passara com o tempo ou a alguma medicação resolverá o problema.


Assim, a terceira parte do ser humano estaria completamente esquecida, mas com esta pequena retomada da religiosidade pagã, eles deveriam ter retornado a pauta, mas infelizmente não foram, e quem sabe por isto, vemos tanta picaretagem e enganos no neopaganismo.


Como disse a pouco, os Gênios, fazem parte dos seres humanos, são nossa intuição, protetores e nossos olhos para o invisível, sem eles, ou melhor, sem nossa conexão com eles nossa percepção do divino reduz sensivelmente. Sim, como falei no final da primeira parte deste artigo, os Gênios e Daemons, são responsáveis por nossa ligação com as divindades indo europeias. Sem este intermediário, só podemos imaginar o contato com os deuses, sem nunca os realizarmos. Esta é a grande causa do paganismo moderno, ter tantas contradições, sem os olhos para o invisível, como podemos saber se quem recebe nossas oferendas é o deus que as oferecemos?
Creio que a razão disto é a falta de conhecimento das lideranças pagãs, que por ignorância excluem o contato com o Daemon e o Gênio da formação do Acólito em sua preparação para a iniciação. Algo que nas religiões afros, mais firmadas na tradição, existem rituais para firmar ou ligar novamente o indivíduo ao seu Daemon, talvez por isto o paganismo no Brasil, venha gradativamente perdendo membros para os ilês de candomblé.



 Na próxima e última parte falarei da reaproximação com o Daemon ou Gênio e dos benefícios que eles podem trazer para os novatos, e mesmo para alguns ditos sacerdotes...


(Cezar Drake)






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