sábado, 16 de junho de 2012

Nascimento,morte e ressurgir do sangue Mella'beth





1561. Itália,Triora. La cabotina ... Culto das antigas Stregas.



O nascimento de Samira e Samara.



Sarah, da casa do norte, senhora dos ventos menssageiros, 'A Pomba ' enfraquecida pela perca de sangue, envolta de complicações físicas e espirituais, perde a consciência em razão das fortes dores e sibilações no decorrer do parto, grande responsabilidade foi deixada em seus ombros, gerar às gêmeas que um dia farão ressurgir os conceitos mágicos de seu sangue. As ançiãs de Triora sussuram presságios provindos do Caos pulsante em suas veias, são possuídas coletivamente por forças além da compreensão, as senhoras, representantes da experiência e sabedoria dos caminhos que percorreram, balbuciam a linguagem serpentina que a muito tempo não era proferida entre as árvores sagradas de Triora, tal floresta que tanto protegeu as filhas do velho ofício, é tocada por um forte sopro que parece movimentar folha por folha daquela antiga região. Ao longe, os lobos habitantes das profundas e misterioras cavernas, somente frequentadas por aquelas que honram aos senhores do submundo parecem reagir às palavras das senhoras, eles respondem com longos uivos, como uma sinfonia funesta, provinda dos reinos abissais e levadas até o horizonte pelos ventos.



 

Agonizante é o estado de Sarah, seus cabelos brancos são manchados por suas mãos desesperadas, ao tocar o seu ventre, banha seus dedos com o sacro sangue de sua vagina, ela parece lutar dentro de si, movimentando seu rosto e tocando suas temporas, pedindo piedade para os antigos espíritos da vida. As mulheres presentes despejam lágrimas inesgotáveis, o martírio de Sarah parece não ter fim, as seguidoras do culto, habitantes das florestas densas, estão temerosas por aquela que tanto ajudou a elas, guiou e iluminou suas iguais, temendo a possibilidade de perder a grande rainha da luz, a filha do divino gamo, o puro esplendor de tudo que é vital, pai do sangue e do fogo, senhor da luz vista além do portão que divide os mundos.



 

Ela permanece dentro do pentagrama  de Venus, traçado numa encruzilhada de Pritânnia no coração da Floresta de fortes árvores que parecem dançar com os ventos, tal dança liberta as flores que parecem migrar para o epicentro mágico do destino, cobrindo o evento regado com sofrimento e agonia com pétalas de pura beleza e magia. Azaleias parecem desviar dos troncos, guiadas pelo sopro noturno, planando em volta das mulheres , circundando a ocasião, muitas caem nos cabelos de Sarah e parecem secá-lo, passam com o vento, tocando levemente o seu rosto, como um gesto de carinho provindo da própria mãe natureza.



 

Há uma mulher robusta presente, cabelos curtos e encaracolados, com um vestido cor laranja e um xale marrom, está entre as pernas firmes da sofrida mãe, pernas posicionadas com rigidez, como pilares fincados ao chão, permanece completamente concentrada no seu papel, massageando o ventre materno, esperando ansiosamente pelo termino daquele parto. Mulher de idade considerável, rosto largo e boca torta, sempre com um sorriso em seu rosto, diminuindo o defeito de seus lábios, há uma outra mulher que não compartilha das características das demais, mulher de curtos cabelos negros, e pele branca como lírio, uma postura feminina sensual e misteriosa, dentre todas naquele momento mágico, foi a única que não derramou lágrimas em seu rosto, usando roupas sem recheios ou protuberâncias, parece ser alguém de terras distantes que não compartilha com os costumes locais, mas possui a mesma ligação com o acontecimento.


 

 

Olhos brilhantes pairam envolta do cruzamento, tão reluzentes quanto as luzes dos lampiões. Sarah cessa seus gritos e tem um momento de alívio, parece estar num estado de repleta paz, nesse momento, a primeira criança surge entre suas pernas, uma menina de olhos tão brilhantes quanto o fogo, cabelos loiros, a mulher corpulenta a pega pelos braços e a mostra para as outras, num gesto de felicidade, as senhoras deixam de sussurrar e gritam em extrema alegria, o vento torna-se mais suave e ainda muito presente, os olhares sinistros provindos da escuridão desaparecem e o lugar e tomado pelo brilho dos vagalumes, borboletas brotam de todos os quadrantes, todas alvas como o pelo de um cordeiro, voando de maneira circular, cortejando aquele nascimento, parecem admirar a criança, a mesma chora suavemente. Fortes galopes são ouvidos, da escuridão, aparecem cervos com flores em suas bocas, deixadas ao redor da encruzilhada, parecem compreender, parecem respeitar a menina.



 

Sarah volta a gritar desesperadamente, dores tão fortes que a fazem tentar levantar, logo contida pelas mulheres envolvidas, neste momento, parece sentir algo bem mais avassalador do que a própria dor, suas lágrimas percorrem seu rosto, lágrimas vermelhas, ela muda seu humor e começa a sorrir, seu semblante modifica, ela gargalha insanamente, olhando para a parteira, ela levanta subitamente e enforca a mulher com umas de suas mãos, a mulher de cabelos curtos e negros, pela primeira vez, adentra no circulo e poe-se de joelhos rapidamente, puxando uma adaga guardada em sua cintura, usando-a, ela corta a palma de sua mão e com aquele sangue, escreve um simbolo na testa de Sarah, a mesma empunha seu bastão e o finca no chão, todas as mulheres ficam de joelhos, perante aquele ato. Os lobos uivam freneticamente, o clamor lupino está cada vez mais próximo, os olhares sinistros retornam a surgir das trevas. Uma vasta imensidão negra, circunda o acontecido, uma torrente de olhares abunda nas sombras; Um “mar” de morcegos toma toda a floresta, atacando as borboletas, com elas entre seus dentes, eles circundam a encruzilhada e guincham, algo insuportável de tão forte e agonizante, as mulheres tremem de medo, temendo o pior. A segunda criança não surge pelo caminho da luz, por onde a vida se propaga, Sarah parece não aguentar, ela estende sua mão esquerda para a mulher de cabelos curtos, ela segura a mão de Sarah e a poe sobre seu coração, a mesma chora, se debulha em lágrimas de dor, incessantemente, olhando para o rosto daquela mulher, totalmente fragilizada, sem forças. Sarah se ergue lentamente e a abraça, sussurrando em seu ouvido:



- Faça ! Minha irmã, meu sangue, minha vida e escuridão, minha gêmea, parte de mim. Escute-me pilar das sombras, ousa-se Rainha da escuridão, cuide de sua sobrinha e acolita, a defenda, zele por ela como fez comigo, proteja ela como sempre fez comigo em épocas passadas, ensine-a a andar entre os lobos, ensine-a a percorrer os caminhos sombrios que a Grande Senhora da eternidade escolheu pra ela.



 

Os lobos cercam-nas, tal como uma emboscada sangrenta, uivos e ranger de dentes, parecem estar furiosos e possuídos. Os morcegos soltam as borboletas mortas entre seus dentes e a Rainha da escuridão chora e grita desesperadamente, golpeando o coração de sua irmã, em seguida, corta seu ventre e observa parte de sua alma partir para além dos portões entre os mundos, ela segura sua irmã pelos braços e posiciona ao chão, uma criança surge do corte ventral, sem o auxilio da parteira, como uma serpente saindo de sua toca, todas as mulheres choram unidas, enquanto a irmã obscura sorri e chora ao mesmo tempo, observando a sobrinha ingressando ao mundo, a distinta mulher que assumiu a difícil missão homicida, rompendo o vente e peito de sua própria irmã, corta o cordão com sua adaga e ergue a pequena menina de cabelos negros ao céu, provocando uma histeria de uivos entre os lobos e fortes guinchos entre os morcegos. Ela abraça a sobrinha com muita força e a cobre com um manto negro e diz a pequena menina:



- Seu nome é Samira, sou sua tia Rouge, esse manto pertencia a sua avó, ela é a grande Rainha noturna, você é a herdeira dos poderes dela, vou ensiná-la  a ser a pior das piores, fazer de você , a minha sucessora...
 


 

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